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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Recortes do artigo: Despedida silenciada: equipe médica, família, paciente – cúmplices da conspiração do silêncio

Em 2014 publiquei na Revista da Puc São Paulo, um artigo que descreve a conspiração do silêncio, descrito como um acordo implícito ou explicito, por parte dos familiares, amigos e profissionais, de alterar a informação ao paciente com a finalidade de ocultar o diagnóstico ou a gravidade da situação. A família é considera um elemento importante na fase final de vida de seu ente querido, cuidá-lo e diminuir seu sofrimento é visto como um de seus deveres. A pesquisa realizada por Volles, Bussoletto & Rodacoski (2012), confirma esta necessidade de proteção. Esse tema se torna importante perante a incidência, ainda alta na atualidade, e as consequências geradas por tal pacto. Estudos de López et al. (2012) e Cordobés, Albacar, Sánchez & Martín (2012), descrevem que tal situação impede a despedida dos envolvidos. Os pacientes se sentem isolados, incompreendidos, enganados, influenciando seus níveis de ansiedade e depressão e se encontram impossibilitados de encerrarem assuntos importantes; a família, diante do pacto, tem dificuldades no enfrentamento e elaboração do luto. Vou postar no blog, recorte deste artigo, o completo esta em: Psicologia Revista. Revista da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. ISSN 1413-4063, [S.l.], v. 23, n. 2, p. 261-272, abr. 2015. ISSN 1413-4063. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/22771/16503.


Despedida silenciada: equipe médica, família, paciente – cúmplices da conspiração do silêncio


Quando tudo começa:

A família é considera um elemento importante na fase final de vida de seu ente querido, cuidá-lo e diminuir seu sofrimento é visto como um de seus deveres; para algumas famílias, é emocionalmente difícil expressar tristeza, desespero e raiva, pois a expressão em si pode ser perturbadora. A pesquisa realizada por Volles, Bussoletto & Rodacoski (2012), confirma esta necessidade de proteção e indica que pode estar relacionada à realidade pré-estabelecida da estrutura familiar, onde por meio da não comunicação e expressão de seus sentimentos encontram a forma de evitar mais sofrimento; neste mesmo estudo, se observou que o silêncio estabelecido entre família e paciente vem acompanhado de dor, angustias e medos, o que faz que esta relação fique prejudicada. Outros estudos como de Ruiz-Benítez & Coca (2008) e Chaturvedi, et al. (2009), indicam que a incapacidade de se comunicar pode estar também relacionada à crença da família em que a verdade vai ter repercussões negativas, como depressão, ansiedade, perda de interesse pela vida e sofrimento desnecessários para o paciente; estes estudos mostram também outro fator como dificultador na comunicação, a forma de como a família percebe sua capacidade para falar sobre a morte e o morrer, quanto mais insegura se sente e quanto maior seu medo, maior será a evitação sobre o tema. Diante destas dificuldades e com o objetivo de se evitar mais dor, algumas famílias solicitam ao médico que não forneça ao paciente toda a informação sobre seu diagnóstico e prognóstico; o médico, por sua vez, entende que o que os familiares pedem pode ser correto e que a divulgação do prognóstico realista pode diminuir a esperança do paciente, como observado nos estudos de Reinke, Shannon, Engelberg, Young & Curtis (2010), López, et al. (2012) e Slort, et al. O pacto ou a conspiração do silêncio é descrita (Chaturvedi et al. 2009; Bermejo, et al. 2012), como um acordo implícito ou explicito, por parte dos familiares, amigos e profissionais de alterar a informação que é passada ao paciente com a finalidade de ocultar o diagnóstico ou a gravidade da situação. Psic. Rev. São Paulo, volume 23, n.2, 261-272, 2014 Despedida silenciada: equipe médica, família, paciente ... 265 A conspiração do silêncio pode ser parcial ou completa, como referido por Bermejo et al. (2012), na parcial o paciente sabe seu diagnóstico, mas não sabe seu prognóstico e a completa o paciente não sabe nem o diagnóstico, nem o prognóstico; estes mesmos autores descrevem em seu estudo a conspiração do silêncio de acordo sua causa, podendo ser adaptativa ou desadaptativa. Na conspiração do silêncio adaptativa, o paciente não fala, nega o que está acontecendo parecendo que não quer saber, é vista como um mecanismo de proteção, tendo como base a necessidade do paciente processar o que está passando, necessitando de tempo para entender. Na conspiração do silêncio desadaptativa o paciente quer saber, pergunta de forma direta ou indireta, mas familiares ou médicos não dizem.

 Consequências da conspiração do silêncio:

 Na comunicação limitada, o não ter certeza do que está acontecendo, traz consequências para o paciente e a família vistas como fatores que dificultam abordar temas importantes em final de vida que necessitariam ser tratados para uma despedida menos dolorosa. Chaturvedi, et al. (2009), em seu estudo, revela que familiares que pactuaram com a conspiração do silêncio, após a morte do ente querido, sentiram que faltou honestidade de sua parte para com o paciente, esta sensação dificulta o luto pós-morte dos familiares. O paciente, por sua vez, imagina o que está acontecendo, pergunta, mas não obtém respostas para sua suspeita, sentindo-se isolado, aumentando os sentimentos de fragilidade, perdas, sentem-se enganados e têm dificuldade na adaptação à doença como demonstrado por Takieldin & de los Ángeles (2010). Essas reações impedem a ambos, família e paciente, a possibilidade da despedida, das reconciliações, que talvez fossem necessárias, das lembranças da vida vivida que os ajudariam a fortalecer os laços de amor e os fariam fortes. Ayarra & Lizarraga (2009), em seus estudos de como dar más notícias, trazem para reflexão motivos para se dar a informação completa ao paciente e família, por exemplo, poder tomar decisões a respeito de Psic. Rev. São Paulo, volume 23, n.2, 261-272, 2014 266 Maria Inês Fernandez Rodriguez tratamentos ou temas familiares e poderem ter a possibilidade de dividir o sofrimento do período, assim como viver o processo de forma significativa, ações que são impossíveis quando há o pacto do silêncio.

CONCLUSÃO:

 Tratar de temas de fim de vida é difícil para todos os envolvidos, é na possibilidade da morte do outro que se percebe nossa finitude. Cada qual tem suas crenças e seus medos. O processo de fim de vida é um período difícil, no qual é necessário lidar com novas informações a todo o tempo, lidar com perdas, passar por ele em silêncio o torna ainda pior. Para que os canais de comunicação estejam abertos e família e paciente possam se expressar, é necessário por parte da equipe médica aperfeiçoar a comunicação de más noticias e estarem preparados para lidar com as demandas que surgem em tal período, respeitando as necessidades dos pacientes e da família e proporcionando- -lhes amparo para a despedida inevitável.

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